"Devemos considerar a natureza não apenas pela sua riqueza e utilidade, mas considerá-la sob o prisma da beleza. Mas mesmo isso não basta. Devemos ainda considerar o seu mistério, sua impenetrabilidade; vê-la em sua sublimidade, erguendo-a acima da antinomia: belo ou feio. Não devemos buscar, mas encontrar; julgar, mas ver e compreender, aspirar e elaborar o recebido. Da floresta e do prado outonal, da geleira e da seara madura deverão fluir, através de nossos sentidos, a força vital e espiritual, o sentido e o valor da vida. Nossas peregrinações por uma região devem fomentar os nossos mais elevados sentimentos, nossa harmonia com a totalidade cósmica. Não deve ser um esporte, nem um hobby. Não devemos, instigados por um interesse qualquer, contemplar e apreciar a montanha e o lago e o céu, mas nos mover e nos sentir abrigados em seu meio, que, como nós, são partes de um todo e formas visíveis de uma ideia; cada um, com suas próprias aptidões e com os meios providos por sua educação e cultura, como artista ou cientista ou filósofo. Devemos sentir todo o nosso ser, e não apenas o nosso corpo, como afim e integrado no todo. Só assim conseguimos realmente contatar e compreender a natureza."
Hermann Hesse - em A Arte dos Ociosos
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