Crato. “Um vendedor de sonhos”. É assim que o poeta e Mestre da Cultura
da Paraíba, Chico Pedrosa, se define. Apontado pela crítica como um dos
dez maiores poetas populares do Brasil, no meio de uma constelação
poética, que inclui Patativa do Assaré, Zé da Luz, Catulo da Paixão
Cearense, Zé Praxedes e Zé Laurentino, Chico Pedrosa justifica que não
tem nada a ver com o livro “O Vendedor de Sonhos”, do autor Augusto
Cury. A auto-definição está relacionada com a sua vida de viajante por
este Brasil afora e pelos sonhos e emoções que vende por meio das suas
poesias.
Durante 36 anos, Chico Pedrosa foi vendedor de
auto-peças. Andou o Nordeste inteiro com uma pasta e uma lista de
preços. Enquanto abastecia o mercado com peças de automóveis, enchia de
sonhos, utopias e ilusões os amantes da poesia. Foi inspirado em sua
própria profissão, na luta pela sobrevivência, que ele fez o poema “O
Vendedor de Berimbau”, que retrata o relacionamento, nem sempre
amistoso, entre os vendedores e os clientes.
“Foi uma forma de
protestar contra os ‘chás de cadeira’ que eu levei nas ante-salas das
gerências dos estabelecimentos comerciais”, afirma. Quando se aposentou,
na década de 1980, o poeta tomou o caminho de volta às origens.
Dedicou-se exclusivamente à poesia. Continuou viajando, agora vendendo
sonhos, como um dom Quixote do sertão, cavaleiro andante que vivia num
mundo de sonhos e resolveu caminhar pela Espanha à procura de muitas
aventuras.
O poeta caminha pelo Nordeste levando nos seus
alforjes os 36 anos de experiência como vendedor e, principalmente, um
amor telúrico ao sertão. Nos últimos anos, tem participado de diversos
shows, apresentando sua poesia ao público nacional, em especial nas
grandes capitais: Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Brasília (DF) e
Recife (PE). O seu poema mais conhecido é “Briga na Procissão”, também
chamado “Jesus na cadeia”. Emotivo, como todo bom poeta, ele chora ao
recitar algumas de suas poesias. De fato, não esconde a emoção das suas
obras.
Recentemente, o poeta esteve no Cariri, nos braços do
Programa BNB de Cultura, uma linha de patrocínio direto do Banco do
Nordeste para apoio à produção e difusão da cultura nordestina. “Aqui,
eu estou em casa, ou melhor, na casa de Patativa, que foi meu grande
amigo, com quem dividi palcos, shows e mesas de bebidas”, lembra o
poeta. Na entrevista, que concedeu à Rádio Educadora, o poeta paraibano
emocionou o Cariri de Patativa com suas poesias.
Biografia
Nascido
em 1936, poeta popular e declamador, Chico Pedrosa tem três livros
publicados: “Pilão de Pedra I”, “Pilão de pedra II” e “Raízes da Terra”,
além de vários cordéis escritos. Tem poemas e músicas gravadas por
cantores e cantadores como Téo Azevedo, Moacir Laurentino, Sebastião da
Silva, Geraldo do Norte, Lirinha, dentre outros.
Lançou três CDs,
intitulados “Sertão Caboclo”, “Paisagem Sertaneja” e “No meu sertão é
assim”, registrando assim a sua poesia oral. Atualmente, ele é cultuado
pela geração nova, como o pessoal do “Cordel do Fogo Encantado”, que em
seus shows declamam poemas desse “poeta matuto”.
FIQUE POR DENTRO
A briga na procissão, por Chico Pedrosa
Quando
Palmeira das Antas pertencia ao Capitão Justino Bento da Cruz nunca
faltou diversão: vaquejada, cantoria, procissão e romaria sexta-feira da
paixão.
Na quinta-feira maior, Dona Maria das Dores no salão
paroquial reunia os moradores e depois de uma preleção ao lado do
Capitão escalava a seleção de atrizes e atores.
O papel de cada
um o Capitão escolhia a roupa e a maquilagem eram com Dona Maria e o
resto era discutido, aprovado e resolvido na sala da sacristia.
Todo
ano era um Jesus, um Caifaz e um Pilatos só não mudavam a cruz, o
verdugo e os maus-tratos, o Cristo daquele ano foi o Quincas Beija-Flor,
Caifaz foi o Cipriano, e Pilatos foi Nicanor. Duas cordas paralelas
separavam a multidão pra que pudesse entre elas caminhar a procissão.
Cristo
conduzindo a cruz foi não foi advertia o centurião perverso que com
força lhe batia era pra bater maneiro mas ele não entendia devido um
grande pifão que bebeu naquele dia do vinho que o capelão guardava na
sacristia. Cristo dizia: ´Ôh, rapaz, vê se bate devagar já tô todo
encalombado, assim não vou agüentar tá com a gota pra doer, ou tu pára
de bater ou a gente vai brigar.
ANTÔNIO VICELMO
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